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De tudo e de nada, discorrendo com divagações pessoais ou reflexões de autores consagrados. Este deverá ser considerado um ficheiro divagante, sem preconceitos ou falsos pudores, sobre os assuntos mais variados, desmi(s)tificando verdades ou dogmas.
Zygmunt Bauman é um dos mais interessantes observadores contemporâneos da sociedade "pós-moderna" e das suas patologias.
Ele representa bem o impasse em que se encontra grande parte do pensamento de formação marxista, quando considera a sociedade "pós-moderna". É visível a perturbante nostalgia de um inimigo visível, que agora não tem mais necessidade da sua subalternidade. E, portanto, da sua aliança.
Nasce também daqui “A solidão do cidadão global”. A velha paixão do poder para um controlo apertado do território foi substituída, na era da globalização, pela facilidade, e, muitas vezes, pela conveniência, em abandoná-lo. Destes ingredientes, é feita “A sociedade das incertezas”.
Em tempos de globalização, não é mais possível a "secessão dos plebeus contra os quais se insurgiu na Roma antiga o alerta de Meneno Agripa”. Agora, em vez disso, basta que os 'nobres', ameacem fazer as malas e ir-se embora, para que os plebeus se acalmem.
A representação da realidade global, proposta por Bauman, contém também confusões, e às vezes semibanalidades. Completamenta diferente, sobre os mesmos assuntos, a precisão de Serge Latouche: “A invenção da economia”, que carece, no entanto, do apoio editorial e universitário anglo-saxão, dos quais Bauman dispõe. Isto não significa, como sublinhou o junguiano Etienne Perrot, que a teoria fundamental de Bauman, isto é, a globalização vista como uma subversão dos territórios por obra do espaço mercantil, continua sólida, mesmo que não tenha sido descoberta por ele. Bauman ilustrou-a, sobretudo, no “Interior da globalização. As conseqüências sobre as pessoas”.
Esta "subversão dos territórios", não só e não tanto físicos, quanto psicológicos e culturais, e os riscos produzidos por ela sobre o indivíduo (um tema já estudado com menos dramaticidade na obra de Anthony Giddens), leva Bauman a abordar a questão a que se dedicam em grande parte as suas últimas obras.
Como no “Desejo de comunidade"(Missing Comunidade, em em Inglês). Aqui, Bauman, fiel à vocação do seu pensamento utilitarista, sugere um retorno da anarquia pós-moderna a uma comunidade vinculada por interesses comuns e recíprocos. Os interesses, no entanto, como sabia muito bem não apenas Ferdinand Tönnies, mas também Max Weber, não são suficientes para convencer o povo aos sacrifícios necessários para a comunidade. Este trabalho bem mais empenhativo requer a condivisão de um sistema simbólico. Uma questão que Bauman não pode na realidade enfrentar, porque a sua estrada está bloqueada pela crença de que os grandes crimes começam com as grandes idéias, que, como sabemos, encaminham para sistemas simbólicos, de que frequentemente surgem.
Daí o drama de Bauman, e não apenas dele. No entanto, as ciências humanas desde o início sabem que os ingredientes da Gemeinschaft (comunidade) são diferentes dos interesses da Gesellschaft (sociedade). Se a primeira faz-te muito medo, mantem-te na segunda.
É impossível ter Menenio Agripa, sem a ordem simbólica a que a sua fábula se refere.