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De tudo e de nada, discorrendo com divagações pessoais ou reflexões de autores consagrados. Este deverá ser considerado um ficheiro divagante, sem preconceitos ou falsos pudores, sobre os assuntos mais variados, desmi(s)tificando verdades ou dogmas.
Nos países anglo-saxónicos são muitos os comentários indignados pela equiparação entre abusos sexuais e sacerdócio das mulheres contidos nas novas normas da igreja romana . "O fato de que as mulheres queiram servir a Deus não tem nada a ver com os padres que abusam de crianças".
O documento apresentado nos últimos dias pela Congregação para a Doutrina da Fé deveria ser um documento que revelasse a boa vontade do Vaticano em tratar corretamente o escândalo dos abusos sexuais que abalou o mundo católico, no último ano.
O documento, que introduz um novo conjunto de regras para investigar e processar padres pedófilos e membros de ordens religiosas, no entanto, decepcionou muitas associações comprometidas contra os mesmos abusos e muitas vítimas. Além disso, ao invés de conter a indignação que orbita ao redor da Igreja, despertou novos protestos de grupos católicos liberais e de grupos católicos femininos - especialmente em países anglo-saxões -, porque inscreve "a tentativa de ordenação de uma mulher" entre os crimes mais grave do direito canónico, ao lado dos abusos sobre menores.
Por indiferença aos dogmas religiosos mais anacrônicos, na Itália deu-se pouco destaque a este aspecto do documento, que torna “lei eclesiástica” a inacessibilidade para as mulheres de assumir cargos de responsabilidade dentro da Igreja. No resto do mundo, no entanto, o novo conjunto de regras não foi considerado satisfatório, desde muitos pontos de vista. Mas, em particular, a formalização tão violenta e fora do contexto da posição do Vaticano sobre a ordenação das mulheres, que efetivamente encerra qualquer possibilidade de discussão sobre o papel das mulheres na hierarquia da igreja, foi ontem um dos pontos mais debatidos e criticados no documento.
- “O documento é uma bofetada na cara das mulheres. O papa está prejudicando a si mesmo” (Pat Brown, do grupo Catholic Women’s Ordination).
- “Uma das declarações mais insultuosas e misóginas que o Vaticano fez desde há muito tempo. Como pode uma mulher que tenha respeito por si mesma querer continuar a fazer parte de uma organização que considera a participação plena e igualitária como um "crime grave"? A resposta continua a ser um mistério para mim.” (Terry Sanderson, presidente da National Secular Society).
- “O documento é extremamente prejudicial para as mulheres, uma vez que fecha a porta a qualquer possibilidade de debate sobre o acesso das mulheres a posições de responsabilidade, num momento histórico que vê as mulheres sub-representados em todas as esferas: política, religiosa e civil. Devemos encorajar a Igreja a compreender e aceitar que os direitos das mulheres não são incompatíveis com a fé religiosa.” (Vivienne Hayes, do Woman’s Resource Centre)
- “Às vezes perguntamo-nos o que temos na cabeça. Isto é misturar alhos com bugalhos: o fato das mulheres quererem servir a Deus não tem nada a ver com os padres que abusam de crianças. Estou horrorizada.” (Sor Christine Schenk, presidente da Future Church).
- “Há uma longa lista de coisas que não pode ser feita, e nós já sabíamos. Mas juntar a questão do ministério da Mulher e os pedófilos no mesmo documento é realmente ridículo.” (comentário de um padre de Melbourne (Austrália), que não por acaso quis manter o anonimato).
- “O Vaticano vive num universo paralelo.” (Paul Collins, ex-padre e comentarista católico).
- “Tive que ler três vezes o parágrafo do artigo do Guardian para ter a certeza do que estava lendo” (Bonnie Erbe do US News)
- O blog "On Faith" do Washington Post chama o anúncio "terrível, ofensivo e digno de protesto por parte de todos os católicos do mundo". William Crawley da BBC fala de "um novo auto-golo da Igreja.”
Não haja dúvida que o obscurantirmo medievalista da igreja romana continua bem vivo nos dias de hoje. Sinais dos tempos ou sinais de uma igreja decadente e corrupta?