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De tudo e de nada, discorrendo com divagações pessoais ou reflexões de autores consagrados. Este deverá ser considerado um ficheiro divagante, sem preconceitos ou falsos pudores, sobre os assuntos mais variados, desmi(s)tificando verdades ou dogmas.
Quais são os medos do nosso tempo? O que significa ter medo hoje? Onde é que nasce o clima de inquietação, ânsia e insegurança que muitas vezes permeia os nossos dias? No seu novo livro, Zygmunt Bauman, um dos pensadores mais famosos e influentes contemporâneos, convida-nos a discorrer sobre o que nos une. Quem pode dizer que nunca teve medo?"O medo é um sentimento familiar a todos os seres vivos", escreve o autor, criador do conceito de "modernidade líquida" exposto em muitos dos seus livros, incluindo Modernidade Líquida, Amor líquido Líquido e Vida. Penetrando na sua análise enfatiza, acima de tudo, como nos seres humanos, ao contrário dos animais, este sentimento é particularmente vincolante, de facto, "direcciona o comportamento do ser humano depois de mudar a sua percepção do mundo e as expectativas que o guiam nas suas escolhas." Em resumo, nos seres humanos há uma particular sensibilidade para o perigo, que os afecta na sua visão de vida e que cria um estado de medo rastejante, suspenso no ar, presente mesmo na ausência de uma ameaça real e, portanto, mais insidioso.Nos nossos tempos, pobres de certezas e garantias, as oportunidades para ter medo não faltam. De acordo com a análise de Bauman, os perigos que se temem podem ser de três tipos:
- aqueles que ameaçam o corpo e os bens;
- os de carácter geral, relativos à estabilidade e à confiabilidade da ordem social;
- e aqueles que ameaçam a própria colocação no mundo e a própria identidade, expondo-nos à possibilidade de ser humilhados e excluídos da sociedade. Por outro lado, e isto é o que mais preocupa, o medo é caracterizado pela ubiquidade, "pode vir de qualquer canto ou fenda da nossa casa ou do nosso planeta": da rua, das pessoas que conhecemos ou de estranhos, da natureza,de outros povos."O medo mais temível é o medo generalizado, indistinto, livre, não ancorado, flutuante, sem um endereço ou uma causa claros; o medo que nos persegue sem uma razão, a ameaça que devemos temer e que vislumbramos por toda parte, mas nunca se mostra claramente. 'Medo' é o nome que damos à nossa incerteza, à nossa ignorância da ameaça, ou daquilo que é preciso fazer."Acreditávamos que na modernidade poderíamos deixar para trás os medos que tinham permeado a vida no passado; acreditávamos que seríamos capazes de assumir o controle das nossas vidas. "Nós, homens e mulheres que habitamos na parte ‘desenvolvida’ do mundo (a mais rica, a mais modernizada), somos ‘objetivamente’ as pessoas mais seguras na história da humanidade." Somo-lo contra as forças da natureza, contra a fraqueza congênita do nosso corpo ,contra as agressões externas. E mesmo assim, nós que gozamos de segurança e conforto sem precedentes, vivemos num estado de alerta constante. Este novo livro de Zygmunt Bauman é um inventário dos nossos medos. É a tentativa de descobrir as suas origens comuns, de estudar as formas para neutraliza-lo e abrir nossos olhos sobre a tarefa que temos de enfrentar, se queremos que amanhã os nossos semelhantes ressurjam mais fortes e mais seguros de quanto nós jamais fomos.
Residente em Londres e professor emérito de sociologia das Universidades de Leeds e de Varsóvia, Bauman tem publicados no Brasil 13 Livros - Entre eles, Amor Líquido e Globalização: As Conseqüências Humanas. Um dos sociólogos mais importantes da atualidade. Grande colecionador de idéias que vagam no ar, aprofundou o conceito de uma sociedade "líquida", partindo do príncipe de que as certezas e previsibilidades do futuro estão diluídas e politicos e empresas querem lucrar com isso, não se vislumbrando como esse clima de insegurança possa acabar. “Pelo contrário, os governos e os mercados têm interesse em manter esses medos intactos e, se possível, aumentá-los.”