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Bento XVI enviou através do Secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone, uma mensagem à associação católica americana Os Cavaleiros de Colombo (que tem quase dois milhões de membros), reunidos neste dias em Washington.

Segundo o papa, “a resposta mais eficaz <…> aos ataques, frequentemente injustos e infundados, à Igreja e aos seus líderes” é “uma grande fidelidade à palavra de Deus, uma mais resoluta procura da santidade, um acrescido empenho da caridade na verdade por parte de todos os fiéis”.

Um passo importante, uma declaração política que não pode cair no silêncio porque revela a estratégia que o Vaticano escolheu para sair do escândalo de pedofilia no clero e fortalecer as fileiras internas.

Primeiro a negação. Os ataques são "frequentemente injustos e infundados", ou seja, o problema é menor que o propagado pela mídia. Sabemos bem que o problema, pelo contrário, é muito maior, pois, um a um, continuam a vir a público casos antigos de anos, se não décadas, e sempre cobertos e silenciados pelo Vaticano, com a participação ativa do então chefe da Congregação para a Doutrina da fé, o próprio Ratzinger. E quantos desses casos nunca virão à luz do dia, relegando ao esquecimento a dor das vítimas e a impunidade dos agressores?

Mas a passagem mais ofensiva vem depois. Talvez alguém, mesmo dentro de uma platéia de acólitos, poderia esperar uma declaração de rigor, de luta cerrada contra aqueles que cometem um crime como o estupro de crianças, a afirmação de um forte desejo da instituição Igreja de colaborar com a justiça. Em vez disso, para superar este momento de crise, do papa vem apenas uma simples receita, quase mágica, cujos ingredientes são "fidelidade à palavra de Deus", a "busca da santidade" e, finalmente, "um acrescido empenho da caridade na verdade por parte de todos os fiéis."

Mas o que é a caridade na verdade? Como podem entrar a misericórdia, o amor, a compaixão e a misericórdia naquela abominável verdade que vai surgindo sobre os casos de pedofilia?

A mensagem é clara. A caridade é o prelúdio para o perdão. E o perdão lava o pecado daqueles que abusaram de uma, dez ou mil crianças. Caso contrário, não há necessidade. A comunidade católica deve usar a caridade na verdade para procurar a santidade para si mesma. Só perdoando, o mais cristão dos ensinamentos, a Igreja vai emergir deste flagelo.

A pedofilia, portanto, continua a ser vista pela Igreja como um problema interno. Uma afronta aos milhares de vítimas que ainda acreditam no deus católico ou não mais. Se a justiça terrena não vai certamente restaurar a sua infância extirpada e profanada, a justiça divina (ou presumida como tal), usando o perdão com os seus algozes, como meio de elevação à santidade, inevitavelmente torna-se co-responsável pelos seus crimes horrendos.

publicado às 21:30



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