Acreditamos que vivemos numa era em que todos os problemas e questões relativos à nossa liberdade estejam já todo resolvidos. A verdade é que queremos um mundo melhor, mas sabemos que, individualmente, torna-se impossível idealiza-lo e construí-lo. Isto é porque foi-nos tirada a voz "social".
Estranho acreditar que estas duas convicções sejam inerentes a nós, como contraditórias: como se pode acreditar que numa e noutra? Se se está convencido de que a batalha pela liberdade foi ganha, por outra ... como é possível imaginar que a possibilidade de um mundo melhor não esteja entre os troféus desta a vitória?
Na verdade, temos sido persuadidos a pensar que este é o melhor mundo em que podemos viver e, portanto, aceitamos a realidade, defendendo a única coisa que podemos identificar com as nossas liberdade: os nossos interesses privados.
Mas aqui falamos de proteção da propriedade privada, não da liberdade pessoal. Devemos apoiar a liberdade de todos de todos para ter alegrias pessoais, apelando para o social.
A nossa existência social ainda é incerta, porque somos vítimas do que Bauman chama de "Unsicherheit", ou seja, a incerteza, a insegurança existencial e a falta de garantias de segurança para própria pessoa, precariedade.
O que nos falta é uma ponte que ligue a voz privada no mundo público. A política, neste contexto, é a primeira matriz do problema. Bauman diz que ela está cheia de insignificância, sem programas. O objetivo dos políticos é manter no cargo.
A política deve fornecer a capacidade de superar as nossas limitações e promover uma vida social saudável.
Bauman busca uma solução para que isto seja viável, e identifica-a com a ágora. Estes espaços permitir-nos-iam lutar contra a insegurança imperante e dinamizar a nossa capacidade de ser capazes de realmente mudar as coisas e viver não num dos mundos possíveis, mas naquele que nós idealizamos e construimos.
Infelizmente, atualmente os espaços são tão poucos que essas mudanças parecem utópicas, também porque parece que a atenção global para um problema só se tenha apenas em ocasiões especiais e que tenham as características de uma explosão.
É difícil criar atenção e vontade para a sociabilidade.
O que acontece é grande ruído em tempos curtos.
Além disso, parece que a sociedade se mova numa direção comum colocando toda a sua atenção "social" apenas em acontecimentos de interesse "externo" aos próprios problemas cotidianos, a atenção é voltada para factos extraordinários, como a morte de Lady Di.
Neste livro, Bauman oferece uma variedade de soluções e busca fornecer um modelo para criar um mundo melhor.
Primeiro, ele nos convida-nos a pensar. Não é verdade que somos herdeiros de uma sociedade pós-utópica e pós-ideológica porque todos os problemas já foram resolvidos.
Diz ele: Acho que as perguntas nunca são erradas, as respostas podem ser. Mas também acredito que abster-se de fazer perguntas seja a pior resposta de todos.
As soluções oferecidas por Bauman são identificadas num modelo republicano de estado e de cidadania, com o direito universal a uma renda mínima garantida e a expansão das instituições próprias de uma cidade autónoma até ao ponto de restaurar a capacidade de acção, através da apropriação de poderes que são atualmente extraterritoriais.