Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
De tudo e de nada, discorrendo com divagações pessoais ou reflexões de autores consagrados. Este deverá ser considerado um ficheiro divagante, sem preconceitos ou falsos pudores, sobre os assuntos mais variados, desmi(s)tificando verdades ou dogmas.
Segundo a Igreja o celibato é o estado de solteiro que implica a abstinência de atividade sexual. Uma autêntica manipulação já que o celibato consiste na proibição para o clero secular de casar-se e não implica de nenhuma forma a obrigação de castidade. Surpreendentemente foi somente incluído no Código de Direito Canónico no ano 1917.
No cristianismo primitivo a idéia mesma de um celibato clerical teria sido considerada absurda tendo em conta que tanto Pedro como Paulo foram homens casados.
A primeira Constituição Apostólica, que data aproximadamente do ano 340, impôs uma dupla disciplina; um homem casado no momento de ordenar-se tinha a obrigação de manter o seu matrimónio, enquanto que um solteiro no mesmo caso aceitaria a obrigação de manter-se celibatário. Na prática o celibato do solteiro era optativo já que a disciplina lhe dava implicitamente a opção de casar-se antes de ordenar-se. A abstinência sexual se converteu em ideal Cristão(?!) e, numa manobra teológica em essência blasfema, a caridade como virtude principal inerente nos Evangelhos, foi substituída pela castidade... No entanto, a disciplina não pegou - e menos ainda a virtude da castidade - nos restantes séculos do primeiro milénio; a imensa maioria do clero continuava casando-se, com excepção dos mais espertos que, aceitando em aparência a disciplina, viviam em concubinato ou, pior, com amantes sucessivas.
A princípios do século V há, repentinamente, uma mudança qualitativo; uma feroz imposição do celibato sacerdotal. Houve razões para isso; por um lado uma razão patrimonial - a Igreja tinha mudado de perseguida e pobre a perseguidora e rica - o medo de que sacerdotes casados deixariam os seus bens paroquiais a suas viúvas e descendência, por outro um movimento ascético e cada vez mais anti-sexual e misógino.
Com a chegada da alta Idade Média os papas "absolutistas" intervieram decididamente no assunto. Usou o poder secular activamente para despejar as esposas dos sacerdotes de suas casas, resultando no suicídio de muitas delas. Disse Gregório: " A Igreja não pode libertar-se das garras da laicidade sem antes libertar os sacerdotes das garras de suas esposas". Com o tempo o celibato se impôs pouco a pouco com efeitos nefastos para a moral sexual. A razão principal para impô-lo tinha sido a consideração de que o matrimónio, a esposa e os filhos, impediriam a plena dedicação, de corpo e alma, do clero à Igreja. Críticos da época disseram coisas como: "a Cúria romana é o melhor exemplo de tudo o que é vicioso e infame no mundo" , "a profissão de sacerdote é o caminho mais curto para o inferno", "Roma não é a Santa Sede mas a Sede Ímpia". Os cardeais foram chamados carnais, as freiras rameiras e nos mosteiros abundavam os gays. Na Idade Média a homossexualidade em certos mosteiros e conventos era habitual; em tempos mais recentes a prática deslocou-se para os seminários e colégios religiosos.
A Igreja logrou finalmente impôr o celibato, depois de tantos séculos, no Concílio de Trento, não obstante a declarada oposição tanto do Imperador Fernando como de muitos outros soberanos. O raciocínio foi o seguinte: como a Igreja é uma instituição absolutista e hierárquica, precisa de operários cegamente entregues à instituição e somente o celibato - sem a distração de problemas familiares - podia garantir tal entrega absoluta; o sacerdócio deixaría de ser a livre entrega a Deus e se converteria num serviço coaccionado ao papado, com o sacerdote como prisioneiro do sistema.
Por outro lado foram acordadas as condições para o recrutamento sacerdotal (idade, ciência adquirida, independência material) alem de estabelecer-se a criação de seminários episcopais para a formação sacerdotal. Como durante a sua estadia no seminário se suprimia a libido com acrescentamentos de preparados de cânfora à comida - como até há pouco se fazia com os recrutas nos exércitos - os seminaristas ordenavam-se sacerdotes sem nenhuma idéia do sexo e menos ainda da privação que significava o celibato.O celibato se impôs mas desde logo a castidade não. Como diz o ditado: " a privação é causa de apetite".
No século XVII havia que inventar o confessionário para assegurar o anonimato das penitentes e para evitar, em caso da confissão de pecados sexuais, a exigência de favores sexuais por parte de confessores chantagistas, um pecado conhecido como "solicitar", muito comum antes, e depois, da existência dos confessionários.
A partir da metade do século XIX a moralidade sexual do clero católico romano tornou-se mais "vitoriana" em todo o Ocidente. Ou seja, continuou mais ou menos como antes mas tornou-se mais subterrânea. Houve mais comportamento puritano para a galeria e mais hipocrisia; muita descrição e encobrimento de crimes sexuais para evitar escândalos que eram muito mal vistos.