Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
De tudo e de nada, discorrendo com divagações pessoais ou reflexões de autores consagrados. Este deverá ser considerado um ficheiro divagante, sem preconceitos ou falsos pudores, sobre os assuntos mais variados, desmi(s)tificando verdades ou dogmas.
De acordo com Bauman, a sociedade tardo-moderna decreta a afirmação do indivíduo, mas do indivíduo de jure, não do indivíduo de facto. Sozinho, vulnerável, sem um espaço público a que se referir, sem uma dimensão política que apenas uma ressurreição da ágora pode garantir, o indivíduo contemporâneo não se eleva para o papel de cidadão, mas um isolado à mercê das suas escolhas e das suas derrotas, "com os olhos fixos apenas no seu desempenho."Se até há poucas décadas atrás, a ameaça para o homem vinha da intromissão do poder público, do olho penetrante do Big Brother,do totalitarismo, hoje, ao contrário, os perigos derivam da retirada do indivíduo e da pobreza da dimensão pública.O espaço público está agora reduzido a pouco mais de uma tela grande, “em que se faz pública confissão de segredos e confissões privadas." Não surpreendentemente, uma expressão típica do nosso tempo são os talk shou que proliferam nas televisões a todas as horas, onde quem intervem exibe uma sinceridade frequentemente inautêntica.” Julgado dono de seu destino e, portanto, culpado no caso de insucesso, o indivíduo é forçado pela ideologia triunfante a procurar, nas palavras de Ulrich Beck, uma "solução biográfica para contradições sistêmicas."
O individualismo hodierno é um individualismo pobre, onde prevalecem o interesse egoístico, a incerteza e o medo de falhar. O indivíduo instável do nosso tempo projecta e desloca os próprios medos sobre comprovados bodes expiatórios: o criminoso, o estrangeiro, o político com vida privada insensata, o vizinho, o conspirador.
A existência contemporânea está dominada pelo consumo: o shoping compulsivo é o ritual através do qual tentamos exorciczar os nossos medos. A verdadeira vida é aquela que é apresentada na TV, a vida dispendiosa da elite cheia de recursos. Vivemos na idade do glamour e da aparência. Apesar de tudo, o consumo desenfreado na procura sempre de novos objectos deixa-nos insatisfeitos, não cura a nossa insegurança e o nosso sentimento de precariedade.
A mercantilização diz também respeito às relações pessoais, que são vigentes enquanto garantem mútua satisfação. As relações são "temporárias", tal como os bens de consumo têm uma data de expiração. A fragilidade do novo tipo de união conjugal, especialmente no caso de pessoas comuns, não faz outra coisa senão produzir "miséria, agonia e sofrimento humano e um número crescente de vidas desfeitas, desprovidas de amor e de perspectivas."Os mais fracos, por exemplo, as crianças, que também são parte no processo, raramente são questionados.A saúde na sociedade contemporânea, tornou-se Fitness, na busca incansável e sempre insatisfeita de forma física perfeita. O trabalho, cada vez mais escasso, torna-nos intercambiáveis e licenciáveis."Os trabalhos seguros e em empresas seguras parecem uma recordação do passado; nem existem especializações e experiências que, uma vez adquiridas, possam garantir um emprego certo, e, sobretudo, duradouro."As guilhotinas que pairam sobre as nossas cabeças chamam-se “redimensionamento”, "otimização", “racionalização ", "demanda flutuante ", "concorrência", "produtividade", "eficiência". A "flexibilidade ", tão exaltada por economistas e especialistas contemporâneos, não é outra coisa que sinónimo de trabalho sem segurança, a curto prazo, sem qualquer direito futuro.Um livro para ler, com interesse, em que as teses do autor são expostas com uma clareza desprovida de qualquer subtileza metafísica. As considerações desconsoladas e lúcidas de Bauman tornam-no uma das vozes críticas mais importantes do nosso tempo.