O Papa Ratzinger, obviamente, não sabe o que fazer.
A Igreja está a atravessar um dos momentos mais sombrios das últimas décadas, e Bento XVI não é capaz de encontrar a luz no grande poço escuro, onde ele caiu juntamente com todo o sistema eclesiástico por culpa dos escândalos dos padres pedófilos.
E agora verifica-se que o terceiro segredo de Fátima revelou que a Igreja está em crise, mostrando ao mundo o seu lado sombrio feito de corrupção, abusos e problemas financeiros.
O Papa tenta salvar-se in corner, e, tristemente, admite que "estava previsto: a Virgem tinha-nos avisado!" Bom para ele, embora neste caso o famoso lema "homem prevenido vale por dois" não valha muito.
A reação dos seguidistas é tendencialmente comum: estamos tão decepcionados, irritados, aborrecidos.
Mas também um pouco cinicamente aliviados, porque, pela primeira vez, a Cúria não se mete conosco, pobres pecadores, ou com a ameaça comunista do costume; mas, principalmente, porque são menos dramáticas as previsões apocalípticas de punições de vários tipos previstas por visionários e teólogos no último milênio. E desculpem-nos se é pouco.
Portanto, a sujeira está dentro da Igreja, mas a limpeza desejada é mais difícil do que o esperado. Porque o sistema eclesiástico revela ao mundo de ser um lobby económico, como tantos outros, com homens de poder que, enquanto tais, lutam para segurar sua própria cadeira e os seus interesses pessoais.
Ratzinger, que não é notoriamente um homem de ação, está em apuros porque não quer ver o que está claro para todos: a Igreja é pecadora, porque feita de homens pecadores; não está imune às tentações, ao erro, à perversão, à sede de riqueza e poder. E, para cúmulo, nem sequer é suficientemente simpática para gerar compaixão naqueles que acreditam que a Fé é algo que vai além das estruturas anacrônicas que procuram geri-la e organizá-la.
Como fará o velho Pontífice, que a revista Time botou fora da lista dos cem homens mais importantes do mundo, para sair deste en-passe?
Até então, nada, e mantém um perfil baixo
Mas desde já há uma guerra dentro da instituição. Falanges conservadoras contra progressistas; a questão feminista que inflama a mente das mulheres que já praticam o ofício pastoral mas não são oficialmente reconhecidas; o problema do celibato dos padres, uma questão em debate desde há décadas. E Deus sabe, e assim por diante.
Bispos contra bispos, padres contra teólogos, todos contra todos.
Bem-vinda ao Terceiro Milénio, Igreja!