Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
De tudo e de nada, discorrendo com divagações pessoais ou reflexões de autores consagrados. Este deverá ser considerado um ficheiro divagante, sem preconceitos ou falsos pudores, sobre os assuntos mais variados, desmi(s)tificando verdades ou dogmas.
Porque há tantos padres pedófilos? Muitos pensam que este é um dos efeitos do celibato forçado, mas se fosse simplesmente isso, deveríamos verificar semelhanças estatísticas em situações similares de castidade obrigatória, que não confirmam esta tese. Além disso, se a condição de celibato tornou-se insustentável para o padre, porque não replicar na normal heterossexualidade adulta normal, mais ou menos clandestina?
Não, o comportamento pedófilo não pode ser explicado apenas pela repressão sexual, mesmo se exagerada e prolongada ao longo dos anos.
Embora a pedofilia seja um crime particularmente hediondo porque afeta as vítimas mais impotentes e indefesas, deve ser dito que ela evidencia um estado de regressão psíquica por parte de quem a pratica.
Um pedófilo não é nunca totalmente adulto, mas tenta, a nível inconsciente, re-evocar simbolicamente a sua própria infância. A falta de maturidade sexual da parte dos padres, marcada pela experiência do seminário, pode ter "fixado" o estado evolutivo psíquico num estádio pré-adolescencial.
Esta interpretação narcisista do comportamento pedófilo dos padres é confirmada pela observação da idade média das vítimas, geralmente entre 8 e 12 anos. Também deve ser notado que em quase todos os casos se trata de pedofilia homossexual, e também este elemento faz-nos compreender como o padre pedófilo tem conflitos pesados a resolver consigo mesmo, com a própria sexualidade, com a sua história e, especialmente, com a sua identidade .
A pedofilia é de qualquer maneira um fenômeno extremamente complexo, e não simplesmente uma expressão de tendências regressivas infantis em adultos (de outra forma os pedófilos seriam milhões!).
Deve ser considerado outro aspecto crucial: a relação sado-masoquista. Mesmo que não haja violência, é inegável que o pedófilo, para subjugar a vítima, se aproveita da sua autoridade como adulto e da sua superioridade física e psicológica.
É também evidente que o propósito do pedófilo não é dar prazer, mas obtê-lo, usando mesmo a própria presa como um brinquedo inofensivo. Portanto, há uma notável componente ideologicamente autoritária na pedofilia. Um autoritarismo que é expresso como uma necessidade de possessão doentia, invencível, de que não se pode escapar.
É muito significativo que, em muitos incidentes relatados nos mídia, se nota que os padres pedófilos geralmente não costumam tomar precauções especiais para esconder o seu comportamento perverso. No seu delírio de omnipotência (também ele de origem infantil) eles preferem confiar no silêncio das suas vítimas ao invés de implementarem os comportamentos desviantes em ambientes protegidos, talvez longe de seu ambiente.
Neste ponto, podemos avançar uma hipótese que talvez possa dar um sentido lógico a tudo o que foi exposto anteriormente, e que poderia, pelo menos em parte, explicar a relação recorrente entre comportamento pedófilo e condição de padre.
Em resumo, foram analisadas as principais componentes da pedofilia e encontramos regressão, autoritarismo, possessão doentia. Que coincidência: trata-se da essência mais íntima da teologia católica!
O catolicismo, entre todas as religiões do mundo, é de facto a única que oferece ao povo o maior número de símbolos infantis: não por acaso a personagem mais proposta, mais reverenciada, mais representada e respeitada é uma mãe. Então, como se faz com as crianças, são constantemente servidas promessas, ameaças, recompensas e punições. Raramente, ou talvez nunca, se fala de responsabilidade pessoal ou de decisões livres, comportamentos que são muito adultos. Os católicos só devem observar, seguir, acreditar, aderir, obedecer, confessar, arrepender-se, etc.
Ainda falando de regressão infantil, note-se que o principal rito católico, bem como o comportamento mais meritório e santo, é um comportamento "oral", que é a Eucaristia. Que os bons cristãos deveriam comungar todos os domingos, lembra, por incrível que pareça, um velho clichê muito comum: "os bons meninos comem a papinha toda!". Mas não só: na liturgia católica insistiu-se, não por acaso, que a hóstia deveria ser recebida na boca das mãos do sacerdote, e não recebida nas mãos pelo comungante. Tal como acontece com uma mãe que alimenta a criança que não sabe ainda segurar na mão a colher.
Poucos notaram que, na época, houve um apelo do Papa João Paulo II sobre este tema, ou seja, o acolhimento da hóstia recebida do sacerdote na boca, uma vez que muitas igrejas estavam sem preconceitos a sofrer um processo de “protestantização” devido a esta formalidade aparentemente trivial, distribuindo a hóstia nas mãos dos fiéis. Mas alguns detalhes não escapam à igreja, porque conhece a sua enorme importância psicológica.
E é de facto assim que a igreja quer que sejam os seus súbditos: impotentes, inconscientes, crianças que se abandonam cegamente nas mãos de uma entidade protetora e reconfortante. Crianças que não podem sequer usar as mãos. Não por acaso, também os pedófilos precisam de sujeitos passivos e inconscientes. Curioso, não é?
O facto é que a criança violentada, vítima de um pedófilo, talvez o padre-pedófilo, é, assim, uma metáfora do católico perfeito: submisso, temeroso, silencioso, confiante de que o que acontece é para seu próprio bem.
A pretexto de escândalos pedófilos no seu seio, a Igreja Católica, segundo os seus seguidistas e apoiantes, está a sofrer um dos muitos ataques previstos pelo seu fundador. Perseguição rotineira quotidiana, portanto, nada de novo sob o sol: as forças "diabólicas" fazem o seu trabalho. Segundo essa carneirada de seguidistas, o que precisamos saber sobre os "inquisidores secularistas" do terceiro milénio é que a prática da pedofilia é pregada e defendida pelos seus próprios referenciais culturais. Para dar apenas alguns exemplos, sem qualquer pretensão de ordem no tempo:
* Rousseau, profeta da Educação relativista e Iluminista, comprou por alguns francos uma menina de dez anos para animar sexualmente as suas noites.
* Dacia Maraini, na esteira dos filósofos iluministas que praticavam sexo com os filhos, argumentou que o incesto é uma prática natural.
* Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Michel Foucault, Jack Lang, futuro ministro francês, assinaram uma petição em que se exigia a legalização de relações sexuais com menores.
* Daniel Cohn-Bendit, líder dos Verdes em Bruxelas e um dos líderes do Maio de 1968, disse ter tentado e promovido a pedofilia e o sexo com menores na escola, como professor.
* Aldo Busi explicou que a idade para relações homossexuais, que ele retém como lícitas, é permitida a partir da idade de treze anos, porque nessa idade um rapaz, diz, seria adulto e livre de decidir ter relações sexuais com outro homem.
* Nichi Vendola, governador da Apúlia, em Itália, numa entrevista ao jornal a Repubblica, em 1985, afirmava: "Não é fácil abordar um tema como a pedofilia, por exemplo, o direito das crianças a ter a sua sexualidade, de terem relações entre si, ou com adultos, enquanto aqueles que lidam com a sexualidade sempre a viram em relação à família.
* Os radicais italianos organizaram uma conferência, a 27/10/1998, nas salas do Senado, cuja apresentação dizia: "Ser pedófilo não pode ser considerado um crime; a pedofilia torna-se um crime, quando se prejudica outras pessoas.” Como querendo dizer que a pedofilia é permitida, desde que a criança consinta e que a lei o permita.
* A Internacional dos Gays e Lésbicas (ILGA) colaborou politicamente e culturalmente com os pedófilos Americanos (NAMBLA North American Man-Boy Lovers Association) durante dez anos, antes de separar-se deste movimento.
* O filósofo homossexual Mario Mieli alegou a função redentora da pedofilia. Nas suas obras (consideradas a bíblia dos gays) são recomendadas como experiências redentoras a promover, além da pedofilia, a necrofilia e a coprofagia.
* As Associações Homossexualistas (COC), fundadas por Jef Last (pedófilo homossexual e amigo de André Gide) nos Países Baixos, quiseram e conseguiram a descriminalização do contato sexual com meninos maiores de 12 anos. Em 1990, de facto, tinha sido descriminalizado na Holanda, o contato sexual (heterossexual e homossexual) com indivíduos com mais de 12 anos: a condição era o consenso do jovem ou da jovem e o nihil obstat dos pais.
É sem dúvida verdade, como disse Ratzinger ainda cardeal, que na igreja ainda há muito lixo, mas é igualmente verdade que do outro lado (a " inquisição secular") há um aterro de escala colossal.
Esta visão maniqueísta do mundo (os bons de um lado e os maus do outro) já vem da antiguidade, está na génese da Santa Inquisição da Igreja romana e foi sempre uma estratégia dessa mesma igreja: dividir para reinar! Não é de estranhar que os seus seguidistas continuem a adoptá-la e, enquanto tal, nada de novo sob o sol. O que é de estranhar é essa saudade dos velhos tempos inquisitoriais da santa madre igreja! Mas, não é por aí que vamos. Neste fenómeno da pedofilia, não poderemos de forma alguma ilibar a Igreja romana das suas responsabilidades, pois erigiu-se como guia moral e religiosa do Mundo e, como tal, no seu seio, a pedofilia e outros escândalos contradizem aquilo que ela mesma prega e pretende mostrar ser. Mais, o fenómeno da pedofilia na igreja romana não se restringe apenas a casos pontuais, mas é uma verdadeira doença orgânica, endémica à igreja, e, como tal, não pode ser vencida pela ação hipócrita de censura, reprovação e condenação do Vaticano. E o pior é que já não há água-benta que lhe valha!
Quase todos os sacerdotes e religiosos (até há poucos anos) entravam no seminário menor aos 10-11 anos de idade, ou seja, depois do ensino básico. Como se preparavam para uma vida em que teriam de permanecer celibatários, logo nessa idade era negado qualquer impulso sexual, reprimido, racionalizado e, muitas vezes, não recebiam uma educação consentânea ao assunto sexo que era até visto como tabu, cada um se desenrascava por conta própria, uns melhor e outros pior. Não se educava, reprimia-se mesmo porque a sexualidade não podia encontrar espaço para expressão num ambiente fechado feito só para rapazes sem qualquer contato com o sexo oposto. Estes rapazes não tiveram condições de ter um bom desenvolvimento psicossexual como acontecia normalmente com os seus coetâneos. A repressão da sexualidade, a supressão da afetividade, a aridez emocional, a negação e demonização dos impulsos sexuais naturais que fazem as pessoas crescer e amadurecer e contribuir significativamente para a construção da sua identidade em relação ao outro foram substituídas por dados intelectuais, racionais que eram relacionados com conteúdos de fé e ideais de vida demasiado elevados e abstratos para aquela idade, e, deste modo, geradores de sentimento de pecado, identidade sexual não resolvida e agressividade reprimida.
Esses ambientes criaram pessoas afetiva e emocionalmente imaturas que se projetam em forma desviada em meninos e meninas da idade na qual o que seu crescimento foi bloqueado. É verdade que são anagraficamente adultos, mas também é verdade que a sua idade sexual e emocional se manteve fixa na fase da pré-adolescência ou da adolescência.
A pedofilia, pelo menos olhando para as queixas e as pessoas envolvidas no âmbito eclesiástico, é, em grande parte, obra de pessoas com tendências homossexuais e, portanto, envolve mais meninos que meninas. Mas nem por isso é honesto dizer-se que o celibato não tem nada a ver com a maioria dos casos de pedofilia.
Talvez haja muitos padres com tendências homossexuais porque nunca atingiram e passaram a fase de desenvolvimento em que os rapazes aprendem a relacionar-se com o sexo oposto, algo que para o adolescente é um obstáculo que deve superar e aprender a gerir . Abrir-se ao sexo oposto é um dos passos mais importantes da maturação sexual.
No seu livro Padres Amantes, o ex-padre F. Mariano Rodrigues fala que "a perturbação dos padres, pelo fato de conviverem o tempo todo com a sensualidade de suas ovelhas e não poderem toca-las, nem ao menos olha-las os leva para o caminho invariável do homossexualismo como válvula de escape para suas emoções sexuais reprimidas." O mesmo autor descreve a posição dos "padres, que durante a confissão dos fiéis se excitam com a narrativa dos pecados, ficam com seus membros eretos e muitos até se masturbam durante o ato sagrado da confissão. Outros padres se servem das freiras, que trabalham como suas secretarias em várias paróquias, todas belas e sensuais, jovens em sua maioria, se entregam com volúpia e lascívia perpetrando o jogo proibido(e, como tal, apetecido) do sexo entre os filhos do Senhor."
Como sabemos, os seminários bem como a imposição do celibato eclesiástico (tal como os confessionários) são frutos do obscurantismo medieval da Igreja. Não será hora da Igreja romana repensar a sua posição intransigente a respeito da sexualidade, da confissão auricular e da obrigatoriedade do celibato?
"É preciso que se entenda que a "castidade" não é e nem poderia jamais ser objeto de um "voto"; ou o homem é casto, ou o homem não é casto. Não se pode dominar essa prodigiosa força (sexual) através de um simples voto (uma intenção). E necessário que o homem se situe em uma esfera consciencial, muitíssimo elevada, para que possa transcendê-la. Todavia, não seria essa mesma esfera consciencial a que se poderia esperar, normalmente, de um verdadeiro "Representante de Deus"? No entanto, esse não é, em absoluto, o caso desses sacerdotes de "Cristo" que, em realidade, não passam de homens comuns que, conduzidos a essa elevada posição (?), vêem-se forçados a essa, absolutamente, desnecessária repressão sexual representada pela exigência do celibato. Como consequência disso, acabam por cair, invariavelmente, na prática desses desvios, abusos e aberrações" (in Regnum, Carlos Alberto Gonçalves).
O fato de essa energia transcendental advir da primitiva energia sexual é que deu origem à superstição de que o sexo é pecaminoso, tal como apregoa a religião cristã. A abstinência sexual dos iluminados não é professada por questões da moral profana, e sim como um recurso de canalizar energia para se obter um estado superior de consciência, que não é atingido sem se pagar um certo preço. A castidade imposta "de fora para dentro" através de regras morais obtusas, tal como a que se impõe aos padres católicos, não possui a menor utilidade prática nem tem o menor valor espiritual. Como já disse o próprio Paulo de Tarso, "é melhor casar-se do que viver abrasado".
A pedofilia é um problema antigo na Igreja Roma. Não acredita? Analise a história dos Papado ao longo de dois mil anos de cristianismo (Entre outras páginas do Shvoong, pode ver: Factos "edificantes" e "piedosos" de alguns Papas http://pt.shvoong.com/humanities/religion-st udies/1972960-factos-edificantes-piedosos-alguns-papas/)... Se hoje emergem escândalos de pedofilia na igreja, não é porque o fenômeno se tenha agravado, mas sim porque as vítimas perderam o medo e saíram do silêncio para denunciarem os abusos. Por paradoxal que pareça, a salvação parte sempre de baixo, das bases.
É graças à coragem das vítimas que se manifesta a falibilidade, real e humana, do infalível pontífice, que teve que pedir perdão, de qualquer modo mas não o bastante, reconhecendo a necessidade de arrepiar caminho. Foi graças às vítimas que muitos bispos, padres e doutores tiveram que inclinar as cabeças e, finalmente demitir-se, para voltar à sua condição humana descendo do pedestal da sacralidade. É graças a eles que a igreja católica, que se crê “indefectível”, mostrou o seu rosto mais real, de realidade defectível, precária e humana.
A pedofilia é um crime, mas a pedofilia dos padres católicos é muito mais perigosa e extremamente gravosa. O “ sagrado”, as pessoas sagradas, lugares e templos sagrados, enquanto tal “separados” tendem a anular a sacralidade da existência normal, excluem a sacralidade de tudo e, assim, tornam-se fonte de confronto e violência.
Os episódios de pedofilia que, pouco a pouco, vão-se manifestando por todo o mundo, evidenciam contradições estruturais da instituição Igreja. É claro que cada pedófilo deve responder individualmente perante as vítimas e perante a justiça, mas a responsabilidade individual não absolve a responsabilidade da instituição.
Bento XVI e grande parte dos bispos falam de tolerância zero para com os padres pedófilos, curiosamente utilizando uma linguagem de extrema direita, mas ignoram a procura das raízes do fenômeno na estrutura da própria instituição eclesial. Tinha que ser aí mesmo, na estrutura do sagrado, que se deveria aplicar a tolerância zero. É por demais conhecida a relação estreita entre sexo e poder. Já para os gregos e romanos o falo era símbolo do poder. Na Roma antiga, as dimensões e a forma do pénis não raramente favoreciam a carreira militar e política. Tudo o que se ergue aprece ter uma referência fálica. Obeliscos, campanários, torres, o báculo, a pastoral, a mitra episcopal, que coisa são se não símbolos fálicos?! Não é por acaso que na igreja romana o poder é reservado ao sexo masculino e negado em absoluto às mulheres.
A pedofilia é interna a esta relação entre sexo e poder. Quem procura crianças para satisfazer o seu apetite sexual, fá-lo para exprimir a própria sede de domínio para com uma criatura mais frágil. É esta sede de domínio a raiz mais profunda da pedofilia. É esta sede de domínio que deveria ser extirpada da estrutura do sagrado.
E que dizer das lavagens cerebrais feitas nas homilías e nas catequeses ou nas aulas de moral onde se procura incutir nos fiéis o sentimento de culpa e de pecado. Como uma mãe possessiva a Igreja parece querer manter os seus fiéis numa perene condição infantil. Não querendo ser mal interpretado, vem a vontade de chamar a tudo isso “pedofilia estrutural” da Igreja que endoutrina homens e mulheres de forma acrítica de modo a permanecerem perenemente crianças. E a sacralização do poder eclesiástico, a teologia e a pastoral do desprezo do corpo, do sexo e do prazer, a condenação das relações entre sexos que não seja consagrada pelo sacramento do matrimónio, não pertence tudo isso ao domínio da violência?
É hora de criar-se um movimento em grande escala para restituir ao cristianismo o sentido da libertação do sagrado, enquanto realidade separada, libertação não apenas de opressões econômicas e políticas, mas também psicológicas, ético-morais, simbólicas. Talvez a pedofilia não desapareça de vez, mas sem dúvida sofrerá um golpe profundo e não apenas os padres pedófilos.
No dia em que o Cardeal Sodano define como “uma tagarelice” a violência sobre menores, a colunista Maureen Dowd faz novamente um ataque ao Vaticano: "O demônio fez cair em tentação os padres pedófilos? Estuprar e molestar crianças vai muito mais além daquilo que chamamos "render-se às tentações da vida '."
Mais do que um exorcista, a Igreja Católica precisa de um sexorcista. A mais famosa colunista do New York Times, Maureen Dowd, comenta ironicamente a afirmação do Padre Gabriele Amorth, conhecido como "o exorcista-chefe da Santa Sé”, que disse que foi o diabo a fazer cair em tentação os padres pedófilos, e que o próprio Lúcifer estaria à frente de manobras diárias contra a Santa Sé.
Segundo o Padre Amorth, o diabo está por trás do ataque a Bento XVI, pois ele é papa maravilhoso: um digno sucessor de João Paulo II. O escândalo dos padres pedófilos mostra que Satanás os está usando para atacar a Igreja porque as tentações estão por toda parte no mundo de hoje. "Cair em tentação significa comer pequenos doces no período de jejum religioso - responde a colunista do NYT - Estuprar e molestar as crianças vai muito além do que nós identificamos como as ceder às tentações da vida. A Igreja precisa de um “sexorcista”, não de um “exorcista”.
Então Dowd cita o episódio da Raniero Cantalamessa, que comparou o escândalo dos padres pedófilos ao semitismo, e cita também a piada de que haveria uma mal-definida conspiração judaico-maçônica por trás dos ataques do "New York Times” à Igreja Católica. "O papa ainda não conseguiu dizer nada extensivo, adequado e honesto sobre o escândalo, e qual o papel que ele desempenhou, incluindo a história do padre do Wisconsin que abusou de 200 crianças surdas - escreveu a famosa colunista - É nas crises que os líderes são testados. É nestas situações que vemos se os dirigentes cedem aos seus piores instintos ou escutam os anjos. Tudo o que Bento XVI tem a fazer é fazer a coisa certa. "
E o NYT continua - O herói da semana, simplesmente por ter tido a coragem de falar a verdade, é o Arcebispo irlandês Martin. Na sua diocese de Dublin, quatro arcebispos passaram três décadas fingindo ignorar os casos de abuso. "Vê-se claramente quanto danificamos o corpo de Cristo", disse o cardeal numa missa durante a Semana Santa "Este foi um ano difícil. O abuso ocorreu no interior da igreja de Cristo. A resposta foi irremediavelmente inadequada ". Amen.
Segundo a Igreja o celibato é o estado de solteiro que implica a abstinência de atividade sexual. Uma autêntica manipulação já que o celibato consiste na proibição para o clero secular de casar-se e não implica de nenhuma forma a obrigação de castidade. Surpreendentemente foi somente incluído no Código de Direito Canónico no ano 1917.
No cristianismo primitivo a idéia mesma de um celibato clerical teria sido considerada absurda tendo em conta que tanto Pedro como Paulo foram homens casados.
A primeira Constituição Apostólica, que data aproximadamente do ano 340, impôs uma dupla disciplina; um homem casado no momento de ordenar-se tinha a obrigação de manter o seu matrimónio, enquanto que um solteiro no mesmo caso aceitaria a obrigação de manter-se celibatário. Na prática o celibato do solteiro era optativo já que a disciplina lhe dava implicitamente a opção de casar-se antes de ordenar-se. A abstinência sexual se converteu em ideal Cristão(?!) e, numa manobra teológica em essência blasfema, a caridade como virtude principal inerente nos Evangelhos, foi substituída pela castidade... No entanto, a disciplina não pegou - e menos ainda a virtude da castidade - nos restantes séculos do primeiro milénio; a imensa maioria do clero continuava casando-se, com excepção dos mais espertos que, aceitando em aparência a disciplina, viviam em concubinato ou, pior, com amantes sucessivas.
A princípios do século V há, repentinamente, uma mudança qualitativo; uma feroz imposição do celibato sacerdotal. Houve razões para isso; por um lado uma razão patrimonial - a Igreja tinha mudado de perseguida e pobre a perseguidora e rica - o medo de que sacerdotes casados deixariam os seus bens paroquiais a suas viúvas e descendência, por outro um movimento ascético e cada vez mais anti-sexual e misógino.
Com a chegada da alta Idade Média os papas "absolutistas" intervieram decididamente no assunto. Usou o poder secular activamente para despejar as esposas dos sacerdotes de suas casas, resultando no suicídio de muitas delas. Disse Gregório: " A Igreja não pode libertar-se das garras da laicidade sem antes libertar os sacerdotes das garras de suas esposas". Com o tempo o celibato se impôs pouco a pouco com efeitos nefastos para a moral sexual. A razão principal para impô-lo tinha sido a consideração de que o matrimónio, a esposa e os filhos, impediriam a plena dedicação, de corpo e alma, do clero à Igreja. Críticos da época disseram coisas como: "a Cúria romana é o melhor exemplo de tudo o que é vicioso e infame no mundo" , "a profissão de sacerdote é o caminho mais curto para o inferno", "Roma não é a Santa Sede mas a Sede Ímpia". Os cardeais foram chamados carnais, as freiras rameiras e nos mosteiros abundavam os gays. Na Idade Média a homossexualidade em certos mosteiros e conventos era habitual; em tempos mais recentes a prática deslocou-se para os seminários e colégios religiosos.
A Igreja logrou finalmente impôr o celibato, depois de tantos séculos, no Concílio de Trento, não obstante a declarada oposição tanto do Imperador Fernando como de muitos outros soberanos. O raciocínio foi o seguinte: como a Igreja é uma instituição absolutista e hierárquica, precisa de operários cegamente entregues à instituição e somente o celibato - sem a distração de problemas familiares - podia garantir tal entrega absoluta; o sacerdócio deixaría de ser a livre entrega a Deus e se converteria num serviço coaccionado ao papado, com o sacerdote como prisioneiro do sistema.
Por outro lado foram acordadas as condições para o recrutamento sacerdotal (idade, ciência adquirida, independência material) alem de estabelecer-se a criação de seminários episcopais para a formação sacerdotal. Como durante a sua estadia no seminário se suprimia a libido com acrescentamentos de preparados de cânfora à comida - como até há pouco se fazia com os recrutas nos exércitos - os seminaristas ordenavam-se sacerdotes sem nenhuma idéia do sexo e menos ainda da privação que significava o celibato.O celibato se impôs mas desde logo a castidade não. Como diz o ditado: " a privação é causa de apetite".
No século XVII havia que inventar o confessionário para assegurar o anonimato das penitentes e para evitar, em caso da confissão de pecados sexuais, a exigência de favores sexuais por parte de confessores chantagistas, um pecado conhecido como "solicitar", muito comum antes, e depois, da existência dos confessionários.
A partir da metade do século XIX a moralidade sexual do clero católico romano tornou-se mais "vitoriana" em todo o Ocidente. Ou seja, continuou mais ou menos como antes mas tornou-se mais subterrânea. Houve mais comportamento puritano para a galeria e mais hipocrisia; muita descrição e encobrimento de crimes sexuais para evitar escândalos que eram muito mal vistos.
As mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor,
Nos últimos tempos o Papa Bento XVI e seus acólitos têm apelado insistentemente ao reconhecimento das raízes cristãs da Europa. Este termo, "raízes cristãs", já tinha estado no centro da discussão quando do debate sobre a constituição européia. Mas qual a razão da Igreja querer meter o bedelho na política européia e do mundo? Medo de perder influência e controlo da situação?
A chamada "civilização cristã ocidental" nasce no dia em que os líderes de uma nascente religião se deram conta de ter um deus todo-poderoso, mas não uma espada com que levar o seu verbo pelo mundo; enquanto o imperador de Roma se deu conta de ter uma espada poderosa, mas não um ideal superior ao qual legá-la. Foi assim que numa noite Constantino… "sonhou" que um anjo lhe mostrou uma cruz e lhe disse "In hoc signo vinces". E o Sacro Império Romano nasceu.
Enquanto os primeiros 300 anos do nosso calendário tinham visto os cristãos esconder-se nas catacumbas, de repente a história do cristianismo se torna também a história de infinitas perseguições por parte deles, com prejuízos para as outras religiões.
Nos séculos que se seguiram foram antes de mais perseguidos todos os cultos pagãos que tinham sobrevivido, os seus sequazes foram exterminados e seus templos foram completamente destruídos pelas armadas romanas, freqüentemente guiadas pelos mesmos bispos locais.
+Bispos como Marco de Aretusa, ou Cirilo de Eliopoli, passaram à história como "destruidores de templos". Até ao século VI os poucos pagãos que restaram no mundo tinham perdido completamente qualquer direito civil.
+Carlos Magno, durante o segundo Sacro Romano Império, fez decapitar cerca de 5000 saxões que não queriam converter-se ao cristianismo.
+A primeira cruzada na "terra santa" causou a morte de cerca de um milhão de pessoas.
Durante a segunda cruzada, 40 cidades e 200 castelos foram submetidos a ferro e fogo pelas armadas cristãs. Só a conquista de Antioquia causou 60.000 vítimas, às quais se juntaram outras 100.000 antes do fim da mesma cruzada.
Na batalha de Askalon foram mortos cerca de 200.000 não-cristãos.
A cifra global das vítimas das cruzadas, segundo crónicas cristãs do tempo, pode colocar-se comodamente entre quinze e vinte milhões.
+ Veio depois o extermínio sistemático de todas as oposições e heresias no decorrer dos séculos: começa-se pelo extermínio dos Maniqueus (alguns milhares), no final do Império Romano, passa-se por milhares de pequenas seitas e heresias um pouco por todo o lado, e chega-se ao milhão de Albigenses (Cátaros) exterminados no 13° século, depois de vinte anos de terror que deixaram meia Languedòc completamente despovoada.
+Até que chegou a Inquisição, cuja atividade foi de tal modo vasta e sistemática que ainda hoje não é possível calcular com precisão o número de vítimas (oficialmente, aliás, o Tribunal não mais foi fechado. Apenas mudou de nome). Só o frade dominicano Torquemada se vangloriava publicamente de ordenar a execução de 10.220 vítimas.
+À Inquisição em toda a Europa vieram depois somar-se as chamadas "guerras de religião", entre católicos e protestantes, a seguir à Reforma Luterana. Eis alguns episódios significativos:
Em 1538, 6000 protestantes foram afogados vivos pelos cristãos na cidade holandesa de Emden.
Em 1572, 20.000 hugonotes morreram por ordem do papa Pio V.
No histórico saque de Magdeburgo, durante a guerra dos 30 anos, cerca de 30.000 cidadãos – homens, mulheres, velhos e crianças - foram mortos a sangue frio pelos cristãos conquistadores. Friedrich Schiller escreveu que "numa só igreja mais de 50 mulheres foram decapitadas, e entre os cadáveres foram encontradas também bébés ainda agarrados ao seio das mães".
No fim da guerra dos 30 anos mais de 40 per cento de toda a população da Europa central tinha sido exterminada.
No século XVI a Irlanda foi "catolicizada" graças ao extermínio sistemático dos habitantes locais.
+A mesma lógica do "extra ecclesiam nulla salus" (tradução para os deserdados de qualquer lugar: "converte-te ou morres, de qualquer forma nunca irás para o céu") foi aplicada por Colombo e todos os que o seguiram na colonização do Centro e Sul da América. No que diz respeito ao Norte da América, teriam pensado em seguida os protestantes em fazer uma coisa semelhante. Estamos falando de dezenas de milhões de vítimas nos dois continentes, que significaram na época o desaparecimento efectivo de 90% das populações indígenas.
+No que diz respeito aos judeus recordamos apenas dois episódios particularmente significativos. Só no ano 1492, ano em que Colombo velejava para as Américas, mais de 150.000 judeus foram queimados a pedido, convertidos à força ou expulsos da Espanha dos catolicíssimos Fernando de Aragão e Isabel de Castela.
Em 1648, 200.000 judeus morreram, por mão cristã, no massacre de Chmielnitzki, na Polónia. Estava-se a menos de trezentos anos, e a cerca de trinta quilómetros, dos futuros fornos de Auschwitz.
Poderíamos continuar a esmiuçar cifras e casos históricos por muito tempo ainda, mas o sentido geral da história da cristianização parece estar já bem esclarecido: estamos falando de uma cifra global aproximativa - seguramente errada por defeito - de oitenta milhões de vítimas.
Serão estas, talvez, as "raízes cristãs" a que a Papa faz apelo? Obviamente, esperamos que não!
HYPERLINKS:
* Inquisição - As acusações
* A Santa Inquisição
*TORQUEMADA E A SANTA INQUISIÇÃO
* A hora dos assassinos (1979-1982)
*Inquisição
* Igreja "casta e putana"
*Os hereges e a Inquisição
*Deus e dignidade
* A Inquisição e as mulheres
*Entre a batina e a aliança
* "Os homens nunca fazem o mal tão plenamente e com tanto entusiasmo como quando o fazem por convicção religiosa". (B. Pascal)
*A CAÇA ÀS BRUXAS (INQUISIÇÃO)
* A caça às bruxas
* Esquecer 500 anos de massacres?
*A Verdade é a Vida!
* Sexo e Contradições na Igreja Católica
* O inconsciente da Igreja
* O Culto à Virgem Maria e a Cultura de Submissão da Mulher
*Pedofilia: Igreja católica entre o silêncio cúmplice e o delírio